PRÓXIMAS LEITURAS - Para entender o lugar onde eu vivo

Conhecer o lugar onde eu vivo. Posso resumir assim a grande motivação por trás do meu trabalho e que ajuda a explicar boa parte da minha trajetória de vida nos últimos anos. Foi isso que me fez comprar minha primeira câmera e fazer minhas primeiras fotografias. Foi isso que me levou ao mestrado em Patrimônio Cultural e deu origem a minha pesquisa sobre os pescadores do Morro do Amaral e a Baía Babitonga. E foi por essa razão que comprei minha bicicleta e comecei a pedalar pelos interiores da cidade. Nada mais natural, então, que essa vontade de conhecer o lugar onde vivo também influenciasse as minhas leituras.

Há pouco mais de um mês, visitando a casa dos meus pais em um final de semana ensolarado no começo da primavera, sentei-me diante da minha estante de livros e fiz uma seleção de dezoito títulos que pretendo ler pelos próximos meses. Dividi essas leituras em seis assuntos que possuem alguma relação com o trabalho que pretendo desenvolver como artista nos próximos anos. Parte considerável dos livros trata sobre a história de Santa Catarina, mas outra parte trata da história do Brasil e de temas mais gerais, que podem ser interessantes para qualquer pessoa, independentemente do lugar onde vivem.

Além do aprendizado e inspirações que tais leituras proporcionam, pretendo compartilhar por aqui as minhas impressões sobre essas leituras, quem sabe assim motivando outras pessoas a lerem mais e também e buscarem conhecer um pouco mais sobre o mundo à sua volta. Abaixo, segue a lista desses assuntos e a indicação dos livros selecionados.

---

1 SOBRE A HISTÓRIA E FORMAÇÃO DO TERRITÓRIO CATARINENSE

Em primeiro lugar, escolhi os livros que tratam da história e da formação do território catarinense. Um assunto que tenho particular interesse é dos espanhóis em Santa Catarina. Durante décadas, Portugal e Espanha disputaram entre si o controle de todo um vasto território no entorno do Rio da Prata. Em 1540 o rei Carlos I nomeia Álvar Núñez Cabeza de Vaca como imperador da Provincia de Nova Andalucía, ou governo do Rio da Prata e do Paraguai - todo o atual Estado de Santa Catarina se encontrava dentro desse território. Isso me faz pensar que a história do lugar onde eu vivo poderia ter ser muito diferente, assim como a visão que as pessoas teriam sobre esse território. A maior parte de nossas cidades não teriam existido, assim como a maioria de nós não teria nascido.

1516: 500 anos da chegada dos espanhóis a Santa Catarina, de Roberto Lourenço;

Cabeza de Vaca, de Paulo Markun; Catarinenses: Gênese e história, de João Carlos Mosimann;

A colonização de Santa Catarina, de Walter Fernando Piazza;

Caminhos, Estradas e Rodovias em Santa Catarina, de Alcides Goularti Filho;

2 SOBRE A CONSTRUÇÂO DA CULTURA E TRADIÇÕES

Meu interesse por conhecer o território, a história e a cultura de Santa Catarina me levou a entender que países, estados, fronteiras, tradições, cultura são, em grande parte, invenções. Espero que algumas leituras me ajudem a ter uma visão mais clara desse processo.

Nações e Nacionalismos desde 1780: Programa, mito e realidade, de Eric Hobsbawm;

A Invenção das Tradições, organizado por Eric Hobsbawm e Terence Ranger;

A invenção da América, de Edmundo O'Gorman;

Comunidades Imaginadas, de Benedict Anderson;

3 SOBRE A ACUMULAÇÂO POR ESPOLIAÇÃO

Fronteiras não são fenômenos naturais, mas criações humanas. No fundo, fronteiras são acordos estabelecidos entre pessoas com poder e que determinam até onde eles podem governar. É preciso ter em mente o que esse governar significa. Em resumo, governar significa: cobrar impostos das pessoas que habitam o território e utilizar-se dos recursos naturais e humanos desse território para satisfação das ambições econômicas das classes dominantes. Raros são os governantes que colocam os interesses da coletividade em primeiro plano. Selecionei alguns livros visando compreender melhor esse processo, e em especial para compreender aquilo que David Harvey chama de acumulação por espoliação. Acumulação por espoliação é um conceito que nos ajuda a compreender o que vem acontecendo atualmente na Baía Babitonga, e também aquilo que aconteceu no passado, durante a Guerra do Contestado, conflito que aconteceu no início do século XX no planalto catarinense.

O Novo Imperialismo, de David Harvey;

Terra Prometida: uma história da questão agrária no Brasil, de Maria Yedda Linhares e Francisco Carlos Teixeira da Silva;

O Poder e a Terra: 500 Anos de Concessões de Terras Públicas em Santa Catarina, de Gert Schinke;

4 SOBRE A MATA ATLÂNTICA

Como alguém que nasceu rodeado pela Mata Atlântica, levei muito tempo para me dar conta da sua existência e da sua importância. Conhecer a história desta floresta e da relação dos seres humanos com a Mata Atlântica é etapa fundamental para que eu possa compreender melhor o lugar onde eu vivo.

A Ferro e Fogo: A história e a devastação da Mata Atlântica brasileira, de Warren Dean;

Na Presença da Floresta: mata atlântica e história colonial, de Diogo de Carvalho Cabral;

5 PARA PENSAR SOBRE O MUNDO A MINHA VOLTA

Meu interesse por conhecer o lugar onde vivo me levou a fazer viagens onde o único propósito era olhar as coisas à minha volta e fazer algumas fotografias. Foi esse mesmo interesse que me levou a comprar uma bicicleta e a pedalar pelos interiores do interior catarinense. Nesses passeios sempre algo me despertava a atenção e me deixava pensativo. Espero que estes livros ajudem a deixar meu olhar mais atento para as sutilezas do mundo. Não só para ser um fotógrafo com olhar mais apurado e crítico, mas também porque viver ganha uma nova profundidade e significado quando sabemos ver para além das aparências.

Paisagem como modo de entender o mundo, de Laura Beatriz Lage;

O Homem e a terra: natureza da realidade geográfica, de de Éric Dardel;

A arte de viajar, de Alain de Botton;

6 SOBRE A NECESSIDADE DA ARTE E O PAPEL DO ARTISTA NA SOCIEDADE

De todos os livros que li, poucos foram aqueles que transformaram radicalmente minha visão de mundo. Destes, apenas um conseguiu transformá-la por três vezes. A Necessidade da Arte, de Ernst Fischer, é sem dúvidas a obra que mais exerce influencia sobre o meu trabalho e é o que guia minha visão sobre o papel da arte e do artista na sociedade. Nesse momento importante da minha trajetória, quero revisitá-lo pela quarta vez. Um livro que certamente irá me acompanhar pela vida inteira.

A Necessidade da Arte, de Ernst Fischer;

---

E você, tem algum livro sobre a história de Santa Catarina que recomenda? Alguma sugestão de leitura sobre Mata Atlântica, sobre arte ou qualquer outra obra que nos ajude conhecer o lugar onde vivemos e contribua para a criação de uma arte crítica e preocupada com a sociedade a nossa volta? Por favor, deixe abaixo o seu comentário com suas sugestões ou reflexões sobre o assunto. Além de me ajudar, você ajuda os outros leitores. Juntos nos fortalecemos.

Um abraço. Fabio Moreira