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O que nossos olhos vêem

Atualizado: 11 de fev.



"O que havia aqui antes da chegada dos imigrantes alemães, suíços e noruegueses a essas terras de Joinville?" 


Lembro-me de ter pensado nessa questão meses antes de iniciar meu mestrado em Patrimônio Cultural e Sociedade. Eu tinha uma ideia de que o lugar era, antes da chegada desses imigrantes, um lugar praticamente desabitado e selvagem, sem nada que pudesse ser digno de atenção. No entanto, talvez essa ideia não fosse minha, mas algo que me fizeram acreditar.


Em 2019, nos primeiros meses do mestrado, apresentei uma proposta de pesquisa à minha orientadora, a Profa. Mariluci Neis Carelli. A questão que me inquietava na época era a hipótese de que havia uma contradição insuperável entre, de um lado, a ideia de progresso e desenvolvimento, e, de outro, o desejo de preservar costumes, tradições e valores. A destruição da "família" e dos "bons costumes" — tantas vezes denunciada como resultado de uma suposta conspiração comunista — poderia, na verdade, ser explicada pelo próprio processo de desenvolvimento capitalista, o mesmo sistema que essas mesmas pessoas tanto defendiam. Então, como poderíamos proteger nossos patrimônios culturais e naturais dentro de uma lógica capitalista que valoriza constantemente a novidade e a mudança?


Não sei se fui claro o suficiente ao explicar o propósito da minha pesquisa, mas lembro bem do conselho da minha orientadora: "Talvez fosse interessante fazer sua pesquisa com os pescadores do Morro do Amaral."


Pescadores? Morro do Amaral? Eu não sabia quem eram nem onde viviam. Foi com surpresa que ouvi minha orientadora dizer que eram daqui mesmo, e que a comunidade do Morro do Amaral era uma das mais antigas de Joinville, habitando a região muito antes da chegada dos primeiros imigrantes alemães, suíços e noruegueses.


E, mais uma vez, me vi diante dessa constatação: eu não sabia nada sobre o lugar onde vivia. E por mais que se conheça, sempre há algo ainda que ficará desconhecido.


Hoje me dou conta: não só não via o Morro do Amaral como não enxergava a Baía Babitonga, nem me dava conta da sua existência, mesmo morando sempre tão próximo a ela.


Que coisa estranha é o ato de ver. Quase nunca nos damos conta de que não vemos apenas com nossos olhos, mas que vemos principalmente com nossas ideias. O que vemos nunca é a totalidade da realidade, mas apenas uma fração dela. Não vemos a realidade realmente real — vemos aquilo que aprendemos a ver. Vemos o que os outros nos ensinaram a ver. E isso, muitas vezes, define o que queremos ver. Para ver o que não é visto é preciso, primeiro, ter consciência da infinidade de coisas que escapam aos nossos sentidos e nossa visão. E então se pode olhar com novos olhos, ver o que não se via, e então expressar a beleza de um tom azul despercebido. Ver/sentir não é ato individual, mas coletivo. O artista é aquele que faz ver o invisível.


“A arte não reproduz o que vemos. Ela nos faz ver.” Paul Klee

Talvez, com meu trabalho, eu possa ajudá-lo a enxergar a Ilha do Morro do Amaral e as pessoas que lá vivem. Talvez eu possa ajudar você a ver a Baía Babitonga — e é isso que eu espero. E espero que você veja de que, por trás dessas imagens e dessas palavras, muito mais coisas à para se ver. Sei que não posso mostrar a totalidade da realidade, mas se essas imagens instigarem a dúvida e despertarem o desejo de conhecer o mundo em que você vive, já terei cumprido meu propósito.


Talvez, com meu trabalho, eu possa ajudá-lo a enxergar a Ilha do Morro do Amaral e as pessoas que lá vivem. Talvez eu possa ajudar você a ver a Baía Babitonga — e é isso que eu espero. Sei que não posso mostrar a totalidade da realidade, mas se essas imagens instigarem a dúvida e despertarem o desejo de conhecer o mundo em que você vive, já terei cumprido meu propósito.


Um abraço, Fabio Moreira, fotógrafo e artista visual.

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© 2024 por Fabio Moreira

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